Concebido a partir da temática das enchentes, Aquário constrói um universo fantástico para retratar o cotidiano de uma família contemporânea. Cinco personagens habitam uma casa inundada pela incomunicabilidade familiar: uma mãe extremamente vaidosa que persegue a perfeição; um pai provedor, mas omisso; uma obediente empregada que se “coisifica” através da repetição mecânica de suas atividades; um protagonista medroso cujas memórias impedem sua relação com o tempo presente e um peixe, seu único amigo e alterego, o ente anárquico que subverte a ordem pré-estabelecida naquele universo.

A peça navega por uma enchente doméstica provocada por um homem que tem a sensação de viver sempre no passado e que encontra na figura de um peixe, a necessidade de se libertar do medo do presente. A relação entre Seu Filho e Peixe é o motor da narrativa. É a partir dela que o protagonista consegue perceber o aprisionamento ao qual está submetido. Peixe e Seu Filho são uma espécie de anti-herói partido em dois, engendrando, a partir do diálogo entre partes distintas do mesmo, a constituição de uma identidade livre e autêntica.

A partir de poucos elementos cênicos, os atores executam um trabalho corporal rigoroso que faz surgir aos olhos do espectador um verdadeiro dilúvio - metáfora central para o esgotamento da sociedade de bases ruídas sobre a qual estamos fundados e na qual estamos afundados.